A chuva havia
passado.
Ele abriu a porta.
Saudou o dia.
Com seu copo de barro e água.
Retornou para dentro. Abriu a janela para ver como
estava a cara do tempo. Olhou pro céu. Mirou
o horizonte. Foi
até a cozinha. Trouxe
a gaiola do passarinho e a pendurou num prego na janela. Cantando a mesma música de sempre, se arrumou.
Vestiu a calça branca.
Amarrou o cordão de pano na cintura.
Calçou sua sandália de coro cru apoiando-se no banco.
Vestiu sua camisa de tecido cru. Colocou o chapéu de palha. Pendurou o alforje num lado.
Colocou dentro a muringa, o copo, o saco de tecido
velho, o lenço velho e o cachimbo. Enrolou a corda da porta num prendedor e saiu.
Queria
aproveitar o tempo perdido com toda aquela chuva que havia caído. Costumava subir o morro. Cruzar
o milharal, Atravessar o riacho e chegar a jaqueira antes das crianças. Hoje resolveu seguir por um caminho
mais longo, porem mais seguro sem correr o perigo de escorregar na lama do
morro. E ele chegou. Conhecia
o caminho do velho ancião. Aproximou-se.
Disse que queria companhia para a andança. E
caminharam juntos.
O velho falava. Ele
ouvia atento e não mudava o rumo da prosa. .O velho contava as
novidades. Ele ouvia. O velho contava das
alegrias. Ele ouvia. O velho contava das
dificuldades, como as coisas estavam mudando. Ele ouvia
tranqüilo como se tudo aquilo fosse comum. O
velho lembrou-se da infância e quando ele corria por aquelas bandas. Ele sorriu. Ele
se lembrou da infância. O
velho parou olhou o caminho. Ele disse que não havia perigo. O
velho confiou. Eles naquele momento pareciam que
já eram velhos camaradas. O velho sorriu. Segurou
num arbusto e seguiu em frente. Ele quis saber mais da vida do velho.
Um pouco mais a frente o velho apoiou-se em seu
braço.
Ele o ajudou a se aprumar. O velho falou de tudo que conhecia de tudo que
a velha memória ainda Le mostrava. Quando chegaram a uma certa distancia, notaram que algumas
bandeirolas coloridas tremulavam ao
vento, Estavam presas e penduradas em volta da velha arvore. Só
poderia ser invenção dos danados.
Apoiou-se nele. Sentou
num tronco de madeira como de costume. Pendurou
o alforje no galho de sempre. Bebeu o pouco da água da moringa que sempre
trazia na bolsa.
Retirou
de dentro do alforje um velho saquinho de pano que sempre trazia. Soprou para que a a poeira saísse.
Abriu o velho
lenço entre os pés.
Sorriu.
Seus olhos brilharam e encheu-se de lágrimas.
O acompanhante quis saber o pouco do que ali estava
registrado.
O velho passou então a lhe contar do que ali existia.
Algumas pedras coloridas.
O velho lhe contou a estória de cada uma delas.
A vermelha: aparecera em sua porta logo depois que um
raio caiu sobre um pequeno arbusto e tudo pegou fogo.
A amarela: aparecera em sua porta logo quando começou
uma forte chuva apagando o fogo e enchendo o pequeno açude.
A azul; aparecera em sua porta logo depois que o mar acalmou.
A branca; aparecera em sua porta logo depois que o
céu ficou todo limpinho.
A transparente; aparecera em sua porta logo depois
que o vento tornou tudo em volta em brisa.
A marrom; aparecera em sua porta quando a terra
tornou-se pronta para a plantação.
A verde; aparecera em sua porta logo depois que um
caçador deixara uma caça para servir de alimento.
Eles sorriram juntos.
Lá longe, uma meninada corria em direção a velha
árvore.
Aproximaram-se do velho em grande algazarra.
Ele sorriu.
O acompanhante de jornada ali já não se encontrava mais.
A criançada sentou-se em sua volta em forma de roda.
Ele acariciou a cabeça de cada uma delas.
Eram meninas e meninos.
Quase todos da mesma idade.
Todos da mesma etnia.
Cada uma lhe entregou o que trazia nas pequenas mãos.
Ele sorriu e agradeceu sabiamente.
Aquela era a boa hora de todo dia.
De se ouvir uma bela história.
Acompanhada de cantoria.
Depois da boa hora de todo dia.
Todas elas corriam para brincar.
Deixando o velho admirando o mar.
Ali ele ficava.
Até o resto do dia.
Aprendera com a natureza a não ter presa.
Não precisava mudar.
Pegou o cachimbo.
Pós o fumo e acendeu.
Pitou por várias vezes.
Aprendera com a natureza a não ter presa.
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